Frederico Valsassina Arquitectos

Simplicidade e linhas retas, espaços amplos e bem iluminados, resumem, grosso modo, o tipo de arquitetura praticado por este coletivo, liderado por Frederico Valsassina. Uma obra assinalável, merecedora de vários prémios, confirma o sucesso de uma carreira sustentada pela sua forma de olhar o lugar e quem o usa.

Quando e como optou pela arquitetura?

O meu avô foi um dos principais arquitetos do anos 40, chamava-se Raul Tojal e sempre fomos muito próximos. Para além disso, vivíamos no Bairro dos Arquitectos e todo aquele universo, somado ao facto de a minha mãe ter cursado Pintura e ser uma pessoa muito ligada às artes, contribuíram, em boa medida, para a minha decisão. E o meu futuro. Todas as conversas e relações construíram um ambiente fértil nesse sentido, e esse ambiente influenciou a decisão da minha carreira.

Quais as principais premissas em que assenta a arquitetura praticada pelo atelier de Frederico Valsassina?

Grande simplicidade, linhas direitas, espaços conectados com a maneira de viver de quem os habita, preocupação com o bem-estar das pessoas que vão usar os espaços, que preferimos que sejam amplos, bem iluminados e de fácil apreensão. Tenho um fascínio pela linha reta, confesso. E isso está bem expresso tanto no desenho de um casa com uma escala reduzida como num equipamento com outra dimensão e função, caso das instalações da CUF de Alcântara, por exemplo. Gosto de desenhar espaços com os quais as pessoas se identificam com facilidade. Pureza de linhas e redução ao máximo do supérfluo estão na base do nosso tipo de arquitetura.

Do início da sua carreira até à atualidade, quais foram os desafios com que se confrontou? O que mudou?

Foram muitos. Comecei a trabalhar cedo, a desenhar à mão, mas hoje tudo é diferente, lidamos com sistemas altamente sofisticados. Houve sempre a preocupação de ir evoluindo, de acompanhar as novas tecnologias, mas sem prejuízo da essência dos materiais. Raramente uso pedras polidas, prefiro-as na sua forma natural... No fundo, foi conseguir implantarmo-nos no mercado do início dos anos 80 e, mais tarde, nos últimos dez anos, com o grande boom da reabilitação, perceber qual era o caminho, identificar para onde ir, como ir e com quem! Ressalve-se que a reabilitação em Lisboa é hoje um facto consumado, mas há 10 ou 15 anos, não era assim e precisávamos de perceber as mentalidades para avançar e acompanhar todas as mudanças.

Pesquisa, inovação, novos materiais... são uma preocupação constante no vosso trabalho? De que forma tal é refletido na obra construída?

Sem dúvida! Os materiais são sempre uma preocupação, são indissociáveis da obra, mas preferimos incluir no nosso trabalho os materiais tradicionais, mesmo sabendo que os novos materiais são, naturalmente, uma imposição técnica.

Diria que a Natureza é, também ela, uma fonte de inspiração na vossa disciplina?

Sem sombra de dúvida, o espaço, o lugar, é um fator decisivo para o desenho.

Qual foi o projeto fora do contexto urbano que gostaria de destacar e porquê?

Talvez a Herdade do Freixo, um projeto a que concorremos, e fui com a equipa visitar o lugar - recordo-me que estava um tempo fantástico. Mais tarde, fiz questão de mostrar algumas das fotografias feitas nesse dia à audiência de uma conferência em que estive presente, na Alemanha. Mas logo naquele dia ficou muito claro para todos que seria um crime alterar o que fosse da geografia do lugar. E assim surgiu a ideia de enterrar a adega. A partir daí fizemos um estudo aturado. Tivemos algumas dúvidas, e de novo mais ideias, entre elas formas de aproveitar as cores do lugar. Fatores como a ventilação, as cores das paredes, a iluminação, que mesmo não se desejando intensa tem de existir, os circuitos – tanto o visitável como o de trabalho, que nunca se encontram – somam um trabalho que teve tanto de desafiante como de especial. A Herdade do Freixo acabaria por receber o prémio Building of the Year 2018 da plataforma Archdaily.

Que viagens e edifícios a visitar constam da lista de desejos próximos a realizar?

Não faço viagens a pensar no que vou ver. Gosto de chegar a uma cidade e ir descobrindo. Sem agenda. Mas por estar a recuperar o Convento da Graça, que será convertido em hotel, uma visita a Itália, país profícuo em conventos recuperados neste tipo de equipamentos, poderá revelar-se útil e interessante. Não é fundamental, mas pode ajudar.
Deixemos passar esta fase...

Uma cozinha funcional deve ter e ser...

Sou péssimo cozinheiro, mas deve ter tudo o que seja relativamente pequeno e que esteja à mão, pelo menos segundo a minha maneira de pensar.

Neste contexto, que electrodoméstico tem de estar sempre à mão?

Talvez pela razão acima referida, o frigorífico.

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